segunda-feira, 26 de setembro de 2011

SOLICITAÇÃO DA ESTUDANTE DE JORNALISMO DA UNIMEP: CARLA BOVOLINI

MATERIAL PARA REVISTA PAINEL

1 – Na sua opinião, qual o motivo do gênero de terror ser tão popular e bem recebido pelo público de cinema?

Resposta: O ser humano é um complexo imenso de aspectos que estão relacionados ao campo genético, sócio ambiental, afetivo, cognitivo, cultural, psicológico, moral, político e religioso. De tal forma que não seria adequado filtrar ao ponto de reduzir as escolhas a apenas um desses eixos de estrutura comportamental. Porém, é possível que o gênero de terror remeta o indivíduo a um dos seus principais arquétipos ou memórias primárias, que é o medo. Por ser a energia do medo a mais primitiva e instintual sinalização de conservação, em termos filogenéticos buscar esses campos de atração fortalece a percepção do quanto de superação é possível agregar a personalidade. Poderia refletir uma forma de atualização da capacidade de sobrevivência à ameaça, simbolizada no filme de terror.

2 – Existe realmente algum tipo de ligação que pode ser feita com os medos que as pessoas têm e o que se retrata na tela?

Resposta: Fazendo a conexão com a resposta anterior, do ponto de vista arquetípico, sim. Considerando que dentro do gênero de terror existem as suas próprias subcategorias, do tipo: terror cômico (Exemplo: Pânico), terror psicodramático (Exemplo: Psicose), terror épico (Exemplo: Drácula o príncipe das trevas), terror romântico (Crepúsculo), etc.
Dessa forma, o imaginário pode conter campos de desejo da pessoa real, portanto, também os medos presentes na história antropológica do ser humano, desde o medo da dor até o medo da morte.

3 – Durante a coleta de dados para a matéria, percebemos que os filmes de terror marcam gerações, e que a preferência nas locadoras por títulos de horror de cada pessoa é na maioria das vezes orientada a partir dos filmes de terror que marcaram a infância ou adolescência. Refletindo a partir dessa informação, pode-se dizer que gerações diferentes têm medos diferentes?

Resposta: Compreendo que o medo é uma energia primária de sobrevivência física, que reflete e pode gerar seqüelas no nível cognitivo e emocional, logo, qualquer contexto que ameace a integridade física e emocional do indivíduo em qualquer época mobilizará o medo. Daí, os fatos históricos podem fazer uma correlação com essa manifestação, por exemplo, no período de guerra o medo mais presente é o de aniquilamento; no pós-guerra o medo pode voltar-se para o eixo da falta de autonomia, e assim por diante, que potencializado nas imagens de um cinema podem insinuar perfil de gerações, mas os medos em si não poderiam ser descritos como circunscritos somente naquela instância, eles podem aparecer simultaneamente em outro momento histórico.

4 – No gênero de terror há personagens que são recorrentes: espíritos, serial killers, zumbis, vampiros. Por trás das caricaturas retratadas no cinema existe algum significado social nos personagens dos filmes de terror?

Resposta: Naturalmente. As imagens utilizadas no cinema nasceram de fatos reais ou do lendário popular, de tal forma que várias dessas imagens foram objetos de estudo de conceituados pesquisadores do comportamento humano, que buscaram desde explicações através dos mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores até números, como o Carl Gustav Jung, Jean Chevalier, Alain Gheerbrant e outros.
Os vampiros, por exemplo, muito difundidos na Rússia, Polônia, Europa Central, Grécia e Arábia representa o tormento da perda da vitalidade do indivíduo diante de seus conflitos de várias ordens que pode minar sua autonomia tornando-o um parasita (sugador) social. O lado positivo do mito é que ele representa o apetite de viver, o negativo é que ele vai buscar a força no outro e não em si mesmo. Assim ele representa em análise mais profunda uma inversão das forças psíquicas contra o próprio ser.  
Assim, a intencionalidade simbólica do filme de terror pode conter o resgate da memória da sombra (lado rejeitado e negado do humano) através da travessia pelo pântano do medo para acessar a força, a superação, a luz na escuridão, na integração da sombra à luz.
Poderíamos dizer que psiquicamente o terror pode representar o caminho do inferno interno que o humano precisa fazer para chegar ao cerne da sua luz.

Iara da Silva Machado.
Especialista em Psicologia Clínica – CRP13-2262
Psicoterapeuta em Análise Bioenergética
Psicóloga Especialista em Infância e Adolescência
Especialista em Atendimento a Pessoa Surda – SUVAG/UFPB/CAMPUS I
Aconselhamento e Orientação a Dependentes Químicos
Psicóloga Transpessoal
Psicóloga com formação internacional em DMP - Deep Memory Process





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