quinta-feira, 23 de setembro de 2021

SOMATOPSICODINÂMICA O SEGUNDO NÍVEL: A BOCA - PARTE III

 Iara da Silva Machado

Psicóloga Transpessoal

Psicoterapeuta em Análise Bioenergética

CRP13/2262 ALUBRAT 201742

O segundo nível, a boca, representa, no pensamento reichiano, o eixo da vida emocional, pela relação com o não-eu e com o outro. É principalmente através da boca que nós nos carregamos de energia e que nos comunicamos pela palavra.

Do ponto de vista anatômico, a boca é uma cavidade com alguns anexos: os dentes, a língua, as glândulas salivares. Essa cavidade termina no arco amigdaliano e vai até a garganta, onde começa a bifurcação dos tubos da laringe e do esôfago. É por isso que as enfermidades da boca sempre têm a ver com a função da boca, a oralidade. A língua é o órgão do paladar, e toda a boca, desde o nascimento, possibilita a tomada de contato com a realidade, em termos de prazer, gratificação, desprazer, frustração, rejeição. A função da alimentação une esse nível ao primeiro nível, pelo olfato e pela visão. 

Alimentar-se exprime também, para o recém-nascido, a necessidade de ser amado, tranquilizado, e a possibilidade de se abandonar ao repouso depois de saciado. Suas dificuldades alimentares são frequentemente devidas a uma insegurança básica, pois uma relação sadia com a mãe envolve uma boa alimentação. Visto que a mãe é o objeto de amor, sua perda simbólica ou real causa, no desenvolvimento psico afetivo, uma condição depressiva, sendo o ciúme uma de suas manifestações.

Toda a ortodontia e as enfermidades dentárias se reportam a essa frustração oral com culpabilidade reativa.

Como a alimentação se confunde, no recém-nascido, com a relação de amor, ela assume um significado afetivo, os amantes ficam plenos de amor e não sentem fome; as dores associados a falta de amor são saciadas com açucares/chocolate; a gula dos idosos alivia  a solidão.

Nas psicossomatizações (grifo pessoal) encontramos caracteres depressivos em pessoas que sofreram desmame precoce ou abrupto; a posição depressiva ansiosa pode se manifestar em transtorno alimentar bulimico; a cleptomania também compensa a ausência de gratificação oral.

A fase oral implica necessariamente uma dependência que deveria, pouco a pouco, ser superada até chegar à autonomia.

A função de comunicação erótica da boca, beijar, sugar, demonstra a relação entre oralidade e genitalidade. É necessário ainda citar uma doença importante que atinge as glândulas salivares, a parotidite viral, comumente chamada de caxumba. Essa inflamação infecciosa provoca o entumecimento das parótidas e impede o funcionamento dos masseteres, e portanto, mastigar e morder.

A vegetoterapia busca a superação da problemática do segundo nível, através da metodologia dos actings da boca completamente aberta, da boca que mama, da boca que morde...Quando o acting, doloroso de início, se torna agradável, considera-se que o individuo recuperou essa função.


Fonte: A Somatopsicodinâmica. Sistemática reichiana da patologia e da clínica médica. Federico Navarro. Summus Editorial, 1995. 



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