segunda-feira, 22 de novembro de 2021

SOMATOPSICODINÂMICA - O SEXTO NÍVEL: O ABDÔMEN

Esse nível pode ser comparado ao do tórax, parte supradiafragmática, do qual ele é correspondente subdiafragmático, estando o primeiro em ligação com o pescoço e o segundo sendo zona de transição para a pélvis (sétimo nível).

Este sexto nível compreende os músculos abdominais, os músculos das costas e os músculos laterais do tronco.

Do mesmo modo que encontramos nos músculos do pescoço a defesa narcísica, é nos músculos lombares contraídos que se situa o medo de ser atacado: eles ficam tensos como um arco, prontos a contra-atacar.

É neste nível que verificamos a importante ligação funcional entre oralidade (a boca) e o diafragma. É nele também que se situa a fisiologia dos intestinos e dos rins.

A eliminação nos três primeiros anos de vida, está ligada à sensação de possuir e, como corolário, à tendência a dar ou a reter.

É assim que esta função exprime igualmente as pulsões de hostilidade, de ataque, de sujar, de destruir.

Quando no momento do desmame, o bebê se vê privado do prazer que lhe proporciona o seio no nível da boca, a zona de prazer se desloca para a outra extremidade do aparelho digestivo, o ânus, com a possibilidade, para ele, de “reter” suas fezes.

Depois dessa observação, podemos dizer que é assim que, na criança, se desenvolve o sentimento de independência, que ela associa a gestão voluntárias de suas eliminações.

Para chegar ao adestramento educativo dos esfíncteres os adultos não poupam bombons, carícias e outras gratificações. A criança associa, então, fezes a uma posse, um valor, e mais tarde, virá a associação com o dinheiro.

Essas considerações nos mostram por que as fezes representam as tendências oblativas (no sentido de “dar”) ou destrutivas. Assim, tanto a diarreia quanto a prisão de ventre exprimem fases muito importantes da vida.

Para Alexander, o esquema dinâmico da diarreia é o seguinte: frustração dos desejos orais de dependência oral, agressividade, sentimento de culpa (com ansiedade=bloqueio diafragmático) e compensação da agressividade oral através da necessidade urgente de dar e de agir, tudo isso provocando a diarreia.

No que concerne à prisão de ventre, ela pode ser observada, muitas vezes, nos indivíduos ansiosos e deprimidos, exteriormente tranquilos mas, interiormente, tensos e desanimados: “Não podendo esperar nada dos outros, não tenho nenhuma necessidade de dar e, pelo contrário, devo guardar o que tenho”, pensam eles.

Não nos esqueçamos de que é nesse período que se instala a ambivalência entre dar e recusar. Desde essa época da vida, enquanto por um lado, a criança gostaria de dar, de outro, ela tem o seguinte discurso: “Eu te odeio e me importo mais com meu conforto e  minha satisfação do que com teu pretenso amor.” Assim se instalam e podem se fixar sentimentos fortemente hostis sob uma aparente capacidade de amar.

O ser humano que não teve ocasião de regular essa problemática e que a gere às custas de controle pode, com o passar dos anos, encontrar-se frente a distúrbios intestinais que não são nada mais do que somatizações.


Fonte: A Somatopsicodinâmica. Federico Navarro. São Paulo: Summus Editorial, 1995.